Há uma pergunta que sempre surge nas discussões entre investidores e analistas: no fim das contas, a bolsa brasileira está com preços baixos?
Para responder de maneira um pouco mais objetiva, é interessante observar o indicador de Preço sobre Valor Patrimonial (P/VPA). Este indicador mostra quanto os investidores estão dispostos a pagar por um determinado ativo em relação ao patrimônio líquido das empresas.
Geralmente, um P/VPA baixo sugere que as ações estão sendo negociadas próximas ou até abaixo de seu valor contábil.
Evolução do P/VPA na B3
As principais empresas listadas na B3 finalizaram 2024 com um P/VPA médio de 1,03. O estudo, elaborado por especialistas, considera companhias com um volume financeiro médio superior a R$ 5 milhões.
Essa mediana de 1,03 é o menor valor registrado desde o início da década passada (janeiro de 2010 a dezembro de 2024), superando negativamente o ponto crítico de 2015, quando o indicador atingiu 1,09.
O recorde positivo foi no segundo trimestre de 2021, com um P/VPA médio de 2,31 vezes.
Contexto Histórico do P/VPA
Como todo dado financeiro, o P/VPA deve ser interpretado à luz do cenário político e econômico do país.
O índice esteve em altos níveis nos anos de 2010 e 2011, refletindo o crescimento econômico e confiança no Brasil como mercado emergente. A partir de 2013, iniciou-se uma queda culminando em 2015, ano de recessão, alta inflação e crise política, que resultou no impeachment de Dilma Rousseff em 2016. — Economista
Com a transição para o governo Temer e as medidas de austeridade fiscal, o mercado recuperou parte da confiança, elevando o P/VPA novamente.
Esse movimento continuou nos primeiros anos do governo Bolsonaro, impulsionado por reformas econômicas e um ambiente global favorável para mercados emergentes.
O cenário mudou drasticamente em 2020 com a pandemia de COVID-19. A mediana do P/VPA caiu para 1,36 no início da crise sanitária.
A recuperação foi rápida, com o indicador chegando ao pico histórico de 2,31 em 2021, refletindo boas expectativas do mercado quanto ao desempenho das empresas brasileiras.
Perspectivas: Oportunidade ou Risco?
O índice de 1,03 registrado no final de 2024 coloca o mercado brasileiro no menor patamar da última década e meia. Para investidores, o que isso representa?
Existem duas formas de interpretar esse dado. Para otimistas, é uma oportunidade de entrada, já que muitas ações estão próximas ao valor patrimonial. Há um grande potencial de valorização se o cenário econômico melhorar e as empresas voltarem a ter bons resultados.
Por outro lado, a insegurança em relação ao controle dos gastos públicos pelo atual governo e a deterioração das contas fiscais têm elevado a percepção de risco dos investidores. — Analista de Mercado
A forte queda do Ibovespa em 2024 (10,36% em moeda local, ou 29,92% em dólares), a pior desde 2015, evidencia a desconfiança do mercado internacional em relação ao Brasil.
Portanto, para investidores mais cuidadosos, o atual nível do P/VPA é sinal de risco, refletindo incertezas fiscais, erros políticos e perspectivas de crescimento econômico débil ou até recessão.
Voltando à pergunta inicial: a bolsa brasileira está acessível? Depende. Para quem acredita na recuperação das empresas listadas na B3, há uma boa oportunidade de adquirir ações a preços atrativos.
Porém, se a expectativa é de que a deterioração dos papéis das empresas brasileiras continue em 2025, considera-se que as ações da B3 ainda estão caras.
Os próximos passos exigem uma análise criteriosa dos fundamentos e da gestão de cada empresa, além de atenção ao contexto macroeconômico e político do país. E, claro, uma reflexão profunda sobre o quanto cada investidor tem de otimismo e apetite pelo risco para investir na bolsa brasileira.